A Europa estafou Gomes. Há oito anos jogando no Velho Continente, o ex-goleiro do Cruzeiro cansou da rotina anglicana e já faz planos para voltar à terra natal.
A vontade é tanta que o arqueiro, que tem mais dois anos de compromisso a cumprir com o Tottenham, já até prevê os possíveis pretendentes a abrigar o seu futebol a partir de 2014.
Em entrevista exclusiva à PLACAR, Gomes, 31 anos, fala também sobre a má fase no Tottenham – jogou apenas quatro partidas na última temporada – e a relação chamuscada com Harry Redknaap, ex-técnico do clube inglês. Além disso, o arqueiro analisa os colegas de posição no futebol brasileiro, a quem compara com a entressafra de novos nomes na Inglaterra, e pinça o seu preferido para o gol da seleção brasileira. Só para dar uma pitada, Gomes não aposta em Rafael, provável titular de Mano Menezes nas Olimpíadas.
Você fez apenas quatro partidas na última temporada pelo Tottenham. Pensa em permanecer por mais quanto tempo nessa condição?
Tenho mais dois anos de contrato (com o Tottenham) e pretendo cumpri-los. A verdade é que estou cansado da Europa, já cheguei ao meu limite. Tem uma hora que o confronto de culturas pesa, faz a diferença. A maneira de conduzir certas coisas no futebol também é diferente. Enfrento isso desde que cheguei na Europa. Estou numa idade em que já penso em voltar (ao Brasil). Na última temporada quase não joguei. Isso me incomodou muito.
A que se refere quando fala sobre a diferença na ‘condução das coisas’?
O clube é muito bom, tem uma estrutura espetacular. O problema é que quando te compram, você tem que render. Se você está bem, tudo bem; se está mal, não tem aquela mão para te ajudar. Isso te deixa desgostoso. Eu mesmo já falei para o presidente que não é só contratar e colocar em campo. Sempre senti falta disso aqui. O Sandro deu sorte, porque eu o ajudei quando chegou. Eu não tive esse auxílio.
Adaptado a Londres?
Londres é maravilhosa. É uma cidade que não para. Para a minha família foi uma boa escolha. É bem diferente de Eindhoven (Gomes jogou por quatro anos no PSV), em que eu fazia o percurso casa-trabalho.
Na última temporada, você fez apenas quatro partidas como titular. Como era o seu relacionamento com Harry Redknaap?
Mal nos falávamos. Eu vinha numa boa fase quando contrataram o (Brad) Friedel. Na ocasião, fiquei surpreso e resolvi conversar com o Redknaap. Ele pediu que eu ficasse tranquilo porque era o goleiro de confiança dele. Mas não foi o que aconteceu. Na temporada retrasada, eu tive apenas duas falhas (contra Chelsea, pelo Inglês, e Real Madrid, pela Liga dos Campeões), mas nunca contei com isso como determinante para a minha saída. Goleiro é cargo de confiança! Falei que desse jeito não dava para continuar. Fora que ele (Redknaap) bloqueou algumas negociações. Três times me procuraram: o Queens Park Rangers, o CSKA (de Moscou) e o Atlético-MG. O CSKA foi o que mais chegou perto, pois queria contar comigo por apenas quatro meses. Era um bom negócio, já que eu jogaria a Liga dos Campeões. Mas ele não me deixou sair.
Está otimista então com a chegada de André Villas-Boas ao Tottenham?
A chegada dele vai me ajudar. É um cara fantástico, disposto fazer o melhor. Foi uma cartada muito certa do Tottenham. Esse cara vai fazer muita coisa aqui. Estou muito confiante. Tenho treinado bem na pré-temporada. Espero fechar bem esses últimos dois anos de contrato aqui no Tottenham.
Já consegue prever os próximos passos após 2014?
Depende muito do meu momento. Se chegar uma oferta confiável do Brasil, vou na hora. Me anima saber que jogadores ‘top’ do futebol mundial estão indo para o Brasil, como Seedorf e Forlán. Isso só me estimula a voltar. O único clube brasileiro que fez uma proposta oficial foi o Atlético-MG, só que o Tottenham pediu horrores, cerca de 8 milhões de libras, e o negócio não avançou.
Quando deixou o Cruzeiro, em 2004, você disse que gostaria de voltar a vestir a camisa celeste. Hoje, qual é a probabilidade disso acontecer?
Ainda não sei em quanto tempo voltarei. Fiz apenas 110 jogos pelo Cruzeiro, adoraria ter jogado muito mais lá. mas hoje o Cruzeiro tem o Fábio, que é um goleiraço. Ele atua em alto nível há muito tempo. Como vou voltar ao Cruzeiro desse jeito (risos)? Não dá para saber o que vai acontecer.
Algum outro time do Brasil te apetece?
Tem o São Paulo, que em pouco tempo deve ter o Rogério Ceni se aposentando. O Grêmio, que perdeu o Victor recentemente. O Palmeiras, o Atlético-MG…
Sobre os seu colegas de posição em atividade no futebol brasileiro, que você destacaria?
A safra de goleiros no Brasil é muito melhor do que em vários países da Europa. Na Inglaterra, por exemplo, o único da nova geração que agrada é o (Joe) Hart, do Manchester City. Mas é o único. Já no Brasil temos o Gabriel (campeão mundial sub-20 em 2011 e atualmente no Milan), que é muito bom; o Rafael, do Cruzeiro, que também tem futuro, e o Rafael, do Santos, que tem chances de se firmar na seleção. Esses goleiros novos precisam de um treinador que banque. Comigo foi assim. No Cruzeiro de 2003, o Vanderlei Luxemburgo segurou as pontas para que eu pudesse realizar o meu trabalho.
Muito se fala sobre a ausência de um goleiro incontestável na meta da seleção. Você tem um preferido para o posto?
O Júlio César (da Inter de Milão) ajudaria muito os mais jovens. Ele ainda tem muito a oferecer. Seria o mais indicado (para a posição). Acho também que o Fábio, do Cruzeiro, deveria ter mais chances. Não acho que ainda é hora do Rafael.
Você iniciou a Era Dunga como titular e fechou como segundo goleiro na Copa-2010. Pensa em voltar a defender a amarelinha?
Se eu estiver jogando, com ritmo, vou batalhar para voltar à seleção.
Fonte: Placar
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