Dois vice-campeonatos olímpicos dramáticos com direito a uma performance muito melhor na final do que a das donas do ouro, as meninas dos Estados Unidos. Um vice-campeonato mundial com um erro de cobrança de pênalti durante a partida, o que custou a derrota. E uma eliminação nas quartas do último Mundial, com gol de empate sofrido nos acréscimos e derrota na disputa de penalidades.
Isso tudo é o que já passou a seleção brasileira feminina de futebol, que já foi bicampeã pan-americana, mas ainda não sabe o que é o sabor do primeiro lugar do pódio em uma Olimpíada ou Mundial. Foi vice nos Jogos de Atenas-2004 e Pequim-2008 ao perder para os Estados Unidos, ao desperdiçar inúmeras chances de gol.
Foi vice mundial em 2007, com Marta errando pênalti na final contra a Alemanha. E ano passado, na Copa, voltou a cair para as americanas.
“É AMARELO OURO”
José Roberto Guimarães cansou de ouvir que seu time era “amarelão”. Depois do ouro em Pequim, desabafou: “É amarelo ouro.”
Mas isso tudo não é discutido internamente entre comissão técnica e jogadoras, agora na tentativa de conseguir o sonhado ouro em Londres. Pelo contrário. O time tem ajuda da psicóloga Maria Helena Antunes para fortalecer o emocional.
“Estamos dando muito enfoque na parte psicológica. Temos uma psicóloga que vai viajar com a gente e já vem trabalhando”, contou o técnico Jorge Barcellos ao UOL Esporte.
O apelo a uma profissional da psicologia já foi feito anteriormente por outra equipe feminina brasileira que conviveu com derrotas dramáticas em Jogos Olímpicos e voltava sem medalha.
Em 2004, nos Jogos Olímpicos de Atenas, a seleção feminina perdeu jogo dramático para a Rússia nas semifinais depois de perder sete match-points para ir à final. Só na quarta parcial, teve uma vantagem de 24 a 19 para liquidar o jogo e não conseguiu fechar. Depois, perdeu jogo equilibrado para a mesma Rússia na semi do Mundial de 2006 e caiu em casa para Cuba na final do Pan de 2007.
Para a edição olímpica seguinte, o técnico José Roberto Guimarães requisitou os serviços de Sâmia Hallage para fortalecer o emocional. Deu certo, e o time levou o ouro em Pequim-2008.
A tática adotada dentro do time de futebol é a de camuflar as doloridas derrotas anteriores. Não se fala delas. O positivismo tem que prevalecer e evitar o que já doeu.
“Isso [as derrotas anteriores] não tem mais nada a ver com o agora. Daquilo que passou temos que tirar coisas positivas. Estamos a cerca de um mês do começo da Olimpíada. Devemos melhorar o máximo possível. Chegar bem forte e ganhar o ouro olímpico. O que aconteceu nem comentamos mais no grupo, não vai mover mais nada. São lembranças que não vão somar muita coisa”, disse o técnico.
Barcellos foi o comandante do time nos Jogos de 2008 e no Mundial de 2007. Voltou à equipe no fim do ano passado, com poucos meses para preparar o time. Retornou porque ficou a sensação de faltar algo.
SHINYASHIKI RECOMENDA PSICOLOGIA
Para Roberto Shinyashiki, médico psiquiatra que trabalha com esporte, a psicologia é importante não só nos momentos ruins de um time ou atleta. “Acham que psicólogos é pra quando os atletas têm problemas. Quando fui para os Jogos de Sydney, os EUA tinham 63 psicólogos na delegação. O psicólogo não é só pra quem tem histórico de derrotas, mas uma rotina na vida do atleta, que quer melhor performance.”
“Voltar à seleção pra mim era um sonho. Fiquei à frente do time por quatro anos. Ficou um sentimento da perda do ouro de 2008, chegamos bem à decisão. A possibilidade de conquistar ouro é a realização pessoal de cada pessoa. O pensamento agora é esse sonho olímpico. Eu acreditava. E conheço todas as meninas. Elas estão melhores ainda do que em 2008. Estou alegre”, falou.
Barcellos diz que um time de qualidade como o do Brasil tem sempre que pensar no ouro. Mas procura tirar a pressão das atletas e ressalta que nem só o primeiro lugar mostra a boa campanha de uma equipe.
“Em qualquer competição você entra pra ganhar o ouro. Ninguém entra pra ficar em segundo ou terceiro. Tem que apostar no seu trabalho. Não pensamos em A, B ou C. No Brasil não se valoriza resultados de terceiro a segundo. É meio complicado O primeiro é o melhor, e não interessa o que o segundo fez. Às vezes um timefaz uma campanha maravilhosa e por deslize perde o título. E é julgado por isso e não pelo que fez na campanha toda. Um ato de falta de concentração pode fazer perder o jogo e ter o trabalho julgado”, finalizou.
Fonte: Uol
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