O Parlamento turco se reuniu em caráter de urgência a portas fechadas nesta quinta-feira para autorizar formalmente o Exército do país a executar operações no território sírio.
A reunião ocorre em meio à resposta militar turca na fronteira, em represália à morte de cinco civis em um povoado do país por disparos provenientes do território sírio.
Os deputados turcos devem debater um texto proposto pelo governo islâmico-conservador que estipula que, “em caso de necessidade”, o Executivo poderá ordenar operações armadas na Síria, já que “as atividades hostis contra o território turco estão a ponto de virar um ataque militar (…) e portanto são suscetíveis de ameaçar nossa segurança nacional”. A autorização parlamentar é válida para um ano.
Dois partidos da oposição, cuja principal força é o Partido Republicano do Povo (CHP), anunciaram que votariam contra o texto, mas o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), no poder e liderado pelo primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan, possui uma clara maioria na Assembleia Nacional e deve conseguir a aprovação sem surpresas.
REPRESÁLIA
A escalada entre os dois vizinhos teve início na tarde de quarta-feira, quando disparos de morteiro atingiram Akçakale, matando cinco civis e ferindo outros dez, segundo o governador da província de Sanliurfa, Celalettin Guvenc.
Embora nem o regime sírio nem os grupos rebeldes que atuam na região tenham assumido responsabilidade pelo episódio, o governo turco e seus aliados têm apontado Damasco como o culpado principal.
O embaixador de Ancara nas Nações Unidas, Ertugrul Apakan, pediu ao Conselho de Segurança que adote as “medidas necessárias” para deter “este ato de agressão por parte da Síria contra a Turquia”.
Em carta dirigida ao secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, e ao embaixador da Guatemala, Gert Rosenthal, que ocupa a presidência rotativa do Conselho de Segurança, Apakan afirma que o ataque “constitui uma violação flagrante do direito internacional, assim como uma violação da paz e da segurança internacionais”. “A Turquia exige o fim imediato destas violações” e pede a adoção “das medidas necessárias para acabar com estes atos de agressão e para garantir que a Síria respeite a soberania, a integridade territorial e a segurança da Turquia”.
A secretária americana de Estado, Hillary Clinton, disse que os Estados Unidos estão “indignados com os disparos sírios contra o outro lado da fronteira (…) e lamentam as perdas de vidas humanas do lado turco”.
Os países membros da Otan manifestaram sua solidariedade a Ancara em uma reunião de emergência convocada em Bruxelas: “a Aliança continua ao lado da Turquia e pede o fim imediato de tais atos agressivos contra um aliado e que o regime sírio ponha fim às flagrantes violações da lei internacional”.
“O bombardeio mais recente que causou a morte de cinco cidadãos turcos e feriu muitos outros, constitui uma fonte de grande preocupação e é fortemente condenada por todos os aliados”, acrescentou.
Mais cedo, o chefe da Otan, Anders Fogh Rasmussen, conversou com o ministro das Relações Exteriores turco, Ahmed Davutoglu, para expressar “sua forte condenação do incidente em Akcakale”, disse um porta-voz.
O episódio de quarta-feira não foi um evento isolado. Na sexta-feira passada, outra bomba danificou prédios residenciais e comerciais, também em Akçakale.
Em junho, a defesa antiaérea síria derrubou um avião de combate turco, levando a Turquia a reforçar seu dispositivo militar na fronteira.
A duração dessa guerra civil já havia desgastado as relações habitualmente amigáveis entre os dois países. Com a revelação dos sucessivos massacres da população civil, o primeiro-ministro turco Tayyp Erdogan se uniu ao coro de críticos contra Assad, chegando a autorizar os rebeldes sírios a se organizarem em território turco.
Mas consequências de 18 meses de guerra civil na Síria vão além de tiros de artilharia contra a Turquia.
O país também abriga mais de 90 mil refugiados do país vizinho, mas teme muitos mais atravessem a fronteira, sem uma solução para o confronto sírio no curto prazo.
Fonte: Folha
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