A nona participação de João Grangeiro em Olimpíadas será especial. Após ir a Moscou-1980 como jogador de vôlei e a outras sete edições de Jogos na condição de ortopedista, o profissional brasileiro ficará encarregado de chefiar a comissão médica do Comitê Olímpico Internacional (COI) no Rio de Janeiro, em 2016. Entre as suas principais preocupações, está o controle antidoping – sobre o qual ele prefere não falar tanto, para evitar que novas substâncias sejam mascaradas nos exames periódicos dos atletas.
“Essa luta contra o doping é permanente. Muitas vezes, não podemos expor nossa capacitação de detectar o doping de maneira aberta. Na realidade, as pessoas não devem ter conhecimento do poder que temos de identificar os casos. É um jogo velado de ambas as partes”, comentou Grangeiro, em conversa com a GE.net, durante evento que premiou dois jovens médicos para estagiar na Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, em clubes como Atlético-MG, Corinthians e Flamengo e em eventos esportivos como o Masters Series de Paris de tênis.
A delegação brasileira em Londres teve uma baixa em função do controle antidoping. A remadora Kyssia Cataldo foi impedida de disputar a final C do single skiff por uso de EPO (eritropoietina), hormônio que aumenta a produção de hemácias e eleva a resistência física dos atletas. “O doping dela foi detectado antes dos Jogos, mas, infelizmente, só houve a notificação lá. Assim que a delegação brasileira recebeu a informação, ela foi afastada. Não tive contato com a atleta porque não estava na missão do Brasil, e sim na comissão médica do COI”, explicou Grangeiro, lembrando que a suspensão foi preventiva. “Todos os procedimentos devem ser seguidos. Os atletas têm o direito de requerer a abertura das amostras e podem elaborar uma ampla defesa.”
Segundo o profissional, não foi só o controle antidoping que evoluiu em Londres. Grangeiro citou também uma inovação do próprio COB que deverá ser implantada por ele nos Jogos do Rio. “Trabalhamos com a telemedicina pela primeira vez agora. Montamos um sistema de conectividade em tempo real, com muita qualidade de imagem e som, e oferecemos isso aos nossos atletas em Londres. Discutimos casos clínicos por teleconferências e procuramos segundas opiniões de especialistas em tempo real. Foi algo fascinante. No Rio, vamos nos conectar a médicos do mundo inteiro: da Alemanha, do Japão, da Inglaterra, de um país remoto da Ásia… Todos os Comitês vão se sentir seguros e respaldados em suas decisões”, disse, animado.
Assim como as autoridades pretendem deixar um legado social após a estruturação do Rio de Janeiro para receber as Olimpíadas daqui a quatro anos, o futuro chefe médico do COI espera que algumas das suas inovações (como o uso da telemedicina e a melhora do controle antidoping nos Jogos) sirvam para aprimorar o sistema de saúde nacional. “O maior legado que a gente pode deixar é o capital humano. Tudo o que fizermos influenciará na formação de profissionais responsáveis pela transformação da sociedade. Enquanto o atleta leva uma medalha, o conhecimento adquirido por nós em uma Olimpíada fica embutido em nossas cabeças. Estamos falando de experiências úteis para o resto da vida”, discursou.
Com tamanha responsabilidade, João Grangeiro já se mostra ansioso para trabalhar nas Olimpíadas do Rio de Janeiro. “O médico do esporte se prepara a vida inteira para os grandes eventos. Não tenha dúvidas de que sinto um friozinho na barriga. Sempre vou para uma edição de Jogos Olímpicos com a mesma ansiedade da primeira vez. Todas as experiências no esporte são únicas. Participei de oito Olimpíadas e posso dizer que todas foram absolutamente diferentes entre si. Sempre há expectativa por emoções e trabalhos novos”, sorriu o ex-jogador de vôlei, impulsionado pelo doping emocional de chefiar a comissão médica do COI.
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