As Seleções Brasileiras de vôlei frequentam o pódio dos Jogos Olímpicos de maneira ininterrupta desde a edição de Barcelona-1992 em uma série de resultados que construiu ídolos e alçou a modalidade ao posto de segundo esporte do País, atrás apenas do futebol. Em Londres, após performances abaixo do esperado na reta final da preparação, os times comandados pelos desafetos José Roberto Guimarães e Bernardinho começam com o prestígio em xeque.
Bronze em Atlanta-1996 e Sydney-2000, a Seleção feminina se prepara para defender o título olímpico conquistado em Pequim-2008 – a estreia é neste sábado, às 18h (de Brasília) contra a Turquia. Quinto colocado na Copa do Mundo-2011, o time nacional precisou participar do Pré-olímpico Sul-americano, torneio de baixo nível técnico, para finalmente conquistar a vaga em Londres. O Brasil perdeu o título do último Grand Prix para a equipe mista dos Estados Unidos e exibiu uma irregularidade que preocupou o técnico José Roberto Guimarães.
Derrotado pela Seleção na final dos Jogos de Pequim-2008, os Estados Unidos incomodaram o time nacional ao longo do ciclo olímpico. Além de vencer as comandadas de Zé Roberto na Copa do Mundo-2011, as norte-americanas deixaram as brasileiras com o vice-campeonato nas últimas três edições do Grand Prix. Desta forma, as medalhistas de prata na China são apontadas pelo treinador, admirador de Destinee Hooker, como candidatas ao ouro na Inglaterra.
“Eu concordo com o Zé, até pelos resultados recentes dos Estados Unidos, que ganharam as últimas três edições do Grand Prix”, afirmou a levantadora Fofão. “Há muito tempo o Brasil não ficava tanto tempo sem ganhar esse torneio. Os Estados Unidos aprenderam a jogar contra o Brasil, e isso é muito perigoso. O time norte-americano, junto com a própria Seleção Brasileira, é um forte concorrente ao título nessa Olimpíada”, completou a atleta.
Presente nos Jogos de Barcelona-1992, Atlanta-1996, Sydney-2000, Atenas-2004 e Pequim-2008, Fofão se aposentou voluntariamente da Seleção Brasileira após a medalha de ouro conquistada na China. Ao longo do último ciclo olímpico, enquanto tentava convencer a atual jogadora da Unilever a reconsiderar, o técnico Zé Roberto Guimarães se esforçou para preparar uma atleta capaz de assumir a posição de levantadora em Londres.
Insatisfeito com Fabíola e Dani Lins, o treinador resolveu convocar a experiente Fernandinha de forma inédita. Aos 32 anos, a jogadora que passou as últimas temporadas no Azerbaijão estreou na Seleção Brasileira no Grand Prix e convenceu o comandante. De maneira surpreendente, ele tomou a decisão de cortar Fabíola, que vinha jogando como titular. A decisão foi anunciada à atleta ainda no saguão do aeroporto, no retorno do time ao País após o Grand Prix.
Apontada como vilã na derrota diante da Rússia na semifinal de Atenas-2004 e protagonista na conquista do ouro olímpico em Pequim-2008, Mari também acabou dispensada. Zé Roberto poupou a atleta do Pré-olímpico e resolveu deslocá-la da ponta para a posição de oposto, sem sucesso. De acordo com a Confederação Brasileira de Vôlei (CBV), o corte foi por critérios técnicos, mas a decisão do comandante teria sido motivada por um suposto problema de relacionamento da jogadora com Sheilla, versão negada pela própria.
Na Seleção masculina, comandada pelo perfeccionista Bernardinho, os resultados da reta final da preparação para os Jogos de Londres também motivaram um clima de desconfiança. Superado por Rússia e Polônia na Copa do Mundo-2011, o time nacional não ficava fora da semifinal da Liga Mundial desde a longínqua temporada de 1998. Derrotada pela Polônia em quatro dos cinco confrontos disputados em 2012, a equipe nacional terminou o torneio apenas na sexta colocação.
Desde que Bernardinho assumiu a Seleção, no ano de 2001, essa foi a segunda vez que o time terminou uma competição fora do pódio. Curiosamente, o mesmo aconteceu na véspera dos Jogos Olímpicos de Pequim-2008, quando a equipe encerrou a Liga Mundial no quarto posto e, em seguida, conquistou a medalha de prata na China. Atualmente, no entanto, Giba, de volta após longo período de contusão, e Murilo não vivem grande fase.
Em um episódio ainda não totalmente esclarecido, o levantador Ricardinho se desentendeu com o técnico Bernardinho e com alguns companheiros na véspera dos Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro-2007. Nesta temporada, porém, a comissão técnica e os líderes do elenco passaram a contar com a companhia do atleta novamente. Apesar da experiência do renomado levantador, confirmado em Londres, o time teve momentos de desconcentração na última Liga Mundial.
Para o ex-levantador Maurício, único bicampeão dos Jogos ao lado de Giovane, o resultado recente pode servir como combustível. “O time está forte. As pessoas ficam muito presas ao resultado da Liga, mas a equipe é guerreira e sabe o que quer. Vai brigar por medalha. Esse obstáculo da Liga pode até fortalecer para as Olimpíadas”, disse o ex-jogador, que aprova a volta de Ricardinho. “O Bernardinho está com o time na mão e o Ricardinho tem experiência, o que pode contar muito em momentos decisivos”.
Na presidência da CBV, cargo que ocupou de 1975 a 1997 – período em que o time masculino foi prata em Los Angeles-1984 e ouro em Barcelona-1992-, Carlos Arthur Nuzman alicerçou seu caminho rumo ao posto máximo do Comitê Olímpico Brasileiro (COB). Antes de trocar de função, ele abriu caminho na CBV para a posse de Ary Graça, que em setembro de 2012 deve ser eleito para comandar a Federação Internacional de Vôlei (FIVB).
O gestor José Carlos Brunoro já atuou em diferentes modalidades, mas tem uma formação vinculada ao vôlei. Ex-jogador e técnico da modalidade, o respeitado dirigente esportivo atribuiu, em parte, a Nuzman e Graça o crescimento expressivo do vôlei desde a década de 1980. A saída do atual presidente da CBV, que também comanda a Confederação Sul-americana de Vôlei (CSV) e é vice-presidente executivo da FIVB, será sentida, prevê Brunoro.
“O Ary vai fazer bastante falta. Não sei exatamente como funciona a estrutura dentro da Federação Internacional, mas acho que ele ainda pode dar uma assessoria forte aqui no Brasil. Além disso, tenho certeza que, depois de tanto tempo no comando, ele já tem a pessoa certa para poder substituí-lo na presidência da CBV. Acredito que ele tem essa pessoa já na manga e o vôlei não vai perder espaço nos próximos anos”, afirmou Brunoro.
Diante do ganho de terreno expressivo do vôlei nas últimas temporadas, a modalidade passou a ser citada como exemplo por dirigentes de outros segmentos. O ex-tenista Gustavo Kuerten, preocupado com a formação de novos jogadores, tem o hábito de citar a estrutura do vôlei como exemplo. Carlos Nunes, presidente da CBB, também costuma fazer referência ao crescimento da modalidade, que superou o status do basquete no Brasil.
Ainda que seja generoso ao falar do desenvolvimento do vôlei nos últimos anos, José Carlos Brunoro diagnostica uma deficiência, e faz sugestões. “Acho que é necessário repensar um pouco mais o trabalho dos clubes. Os clubes não estão mais sendo muito formadores de atletas, tirando algumas raras exceções. Acredito que o Brasil deve repensar um pouco essa parte de formação. É nisso que temos que investir mais”, declarou.
Com a iminente saída de Ary Graça da CBV para presidir a FIVB, a situação dos técnicos José Roberto Guimarães e Bernardinho também fica indefinida. O segundo conciliou a seleção masculina com o Unilever nas últimas temporadas e o primeiro passará a comandar um time em Campinas. Desta forma, o resultado das equipes nacionais nos Jogos Olímpicos de Londres certamente será fundamental para o futuro.
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