Delegada Andréa Nicotti diz que a sensibilidade feminina é vantagem das mulheres na função policial.
Nesta semana um delegado do Rio de Janeiro foi destituído do cargo e substituído por uma mulher após postar no Twitter críticas contra policiais femininas que trabalhavam com ele. O caso teve repercussão nacional e levantou a questão do machismo na força policial. O Terra ouviu a opinião de delegadas de diferentes partes do Brasil sobre a polêmica. Todas afirmam que o respeito é conquistado com profissionalismo, mas ponderam que ainda precisam provar que são até mais capazes que os homens, conquistando admiração, não só pelo beleza, como também no tiro.
As críticas foram postadas pelo delegado na última quarta-feira. Pedro Paulo Pontes Pinho, titular da 9ª DP (Catete), publicou em seu perfil pessoal que apenas uma das 14 mulheres de seu efetivo era capaz de exercer a função. “Tenho 14 mulheres no meu efetivo, mas apenas uma, uma apenas, reúne talento coragem e disposição para encarar a atividade policial”, escreveu.
A delegada baiana Patrícia Nuno, que atua há 17 anos como policial, não estranha a colocação feita pelo delegado. Ela diz que apesar desse tipo de pensamento já não ser mais tolerado socialmente, muitos policiais ainda resistem em aceitar, por exemplo, a chefia de uma mulher dentro de delegacias. “Existe uma resistência dos homens na subordinação a uma comandante feminina.” O respeito, segundo Patrícia, foi conquistado com eficiência no desempenho de suas funções e pelo fato de ser a melhor atiradora da polícia baiana. “Sou o primeiro lugar nos quadros de tiro da Polícia Civil da Bahia… e isso, corporativamente, tem muito valor, a fama se espalha logo”, conta.
As policiais afirmam que é notório dentro da polícia que a sensibilidade e o sexto sentido das mulheres são vantagens em relação aos homens na investigação criminal, por isso, critica as colocações feitas pelo delegado. “Qualquer um poderia até se manifestar contra as mulheres, menos um delegado. Ele deveria ter consciência de que uma mulher desenvolvendo um trabalho de investigação o faz de maneira até melhor do que os homens”, rebate a policial baiana.
A opinião de Patrícia é corroborada pela delegada Andréa Nicotti, da cidade gaúcha de Taquara (a 70 km de Porto Alegre). “O fato de ser mulher muitas vezes ajuda, sim. Conseguimos falar de forma mais íntima com vítimas de violência doméstica, temos mais sensibilidade e didática, em geral, no interrogatório de crianças vítimas de crimes sexuais”, descreve, comentando ainda que instrutores de tiro já lhe disseram que as mulheres têm uma mira melhor. “Já ouvi professores e instrutores de tiro comentarem que mulher atira melhor com mais facilidade do que homem porque tende a ser mais focada no alvo. Não sei se é verdade, mas, particularmente, atiro muito bem”.
Já a delegada da Polícia Civil de Minas Gerais Alessandra Wilke, que participou das investigações do Caso Bruno, no entanto, diz que nunca foi alvo ou presenciou qualquer tipo de discriminação contra mulheres na polícia, apesar de “todo mundo achar que você é novinha por ser baixinha”, brinca. “Na verdade, as pessoas ficam admiradas de ser mulher”.
Para ela, isso se deve a uma postura estritamente profissional no trabalho. “Eu nunca encontrei discriminação, diferença ou tratamento diferenciado, nem por parte de policiais homens, chefes ou até de investigados. Acho que tudo é a postura com a qual a pessoa se comporta. Nunca tive problema pelo fato de ser mulher em uma carreira onde existem mais homens”, diz a delegada mineira.
Alessandra Wilke pondera que o problema da colocação do delegado fluminense teria sido se referir a mulheres como preguiçosas. “Não é porque são mulheres que não fazem nada, existem também muitos homens que não fazem nada na profissão. Tem que ver o que ele quis dizer… mas ele acabou se dando mal porque a chefe dele é mulher”, disse ela se referindo a chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Martha Rocha.
A delegada gaúcha acredita que, lamentavelmente, a opinião do delegado do Rio, deve refletir que ainda existe um pensamento machista dentro da polícia. “Enquanto for velado ou simplesmente não ultrapassar a barreira do pensar, nenhum prejuízo causa a ninguém, exceto ao preconceituoso”, afirma.
“O problema é que delegados de Polícia são pessoas públicas, que ocupam cargos respeitados e cada vez mais importantes e valorizados nacionalmente. Por isso, na minha opinião, o delegado que criticou as mulheres no Rio de Janeiro agiu errado, sim. Não avaliou o fato de ser uma figura pública e não mediu as consequências de suas palavras (…) torço para que sua opinião mude. Não sei se o delegado em questão tem esposa ou filhas, mas espero que elas um dia venham a desmitificar essa o que ele manifestou. Existem pessoas competentes do sexo feminino e do sexo masculino em qualquer profissão”, finaliza Andréa.
Fonte: Terra
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