Desde 1º presidente dos EUA, continuidade no poder tradicionalmente é marcada por fracassos. Principais metas de Obama enfrentam realidades orçamentárias sombrias
O azar do segundo mandato – quando um segundo mandato presidencial tradicionalmente é marcado por escândalos e fracassos – é uma tradição nascida na época do primeiro presidente americano George Washington (1789-1797), que enfrentou uma crise sobre suas relações com o Reino Unido, a potência que então colonizava o país.
O presidente Barack Obama, cuja cerimônia de posse ocorreu na segunda-feira de 21 de janeiro , reconhece os perigos de exagerar, mas promete agir com cautela. As probabilidades, porém, estão contra ele.
Obama é o 20º presidente dos EUA a servir dois mandatos. A maioria dos outros encontrou problemas e frustrações. Ele também é o terceiro líder consecutivo a ganhar um segundo mandato de quatro anos. Ambos seus antecessores tiveram dificuldades.
O presidente Bill Clinton (1993-2001) sofreu um impeachment imposto pela Câmara dos Deputados por mentir sobre um caso que teve com a estagiária da Casa Branca Monica Lewinsky, embora o Senado tenha se recusado a retirá-lo do cargo. O presidente George W. Bush (2001-2009) não conseguiu obter a grande reformulação da previdência federal no Congresso e foi criticado por sua atuação durante o furacão Katrina e pela crescente preocupação do eleitor com as guerras do Iraque e Afeganistão.
Depois da cerimônia de posse, a influência de um presidente em um segundo mandato poder começar a diminuir.
“Isso também é conhecido como fadiga, as pessoas se cansam. Normalmente, os melhores profissionais do ramo são recrutados para servir no primeiro mandato. Para o segundo, já é como recorrer ao banco de reservas”, disse Ross Baker, professor de ciência política da Universidade Rutgers. “É um pouco menos glamouroso do que no primeiro. É possível que as coisas se tornem um pouco mais sem graça. E estou sendo sútil.”
Há uma certa mudança de política durante o segundo mandato. Em algum momento a atenção começa a fluir em uma nova direção à medida que ambos os partidos passam a se preocupar com a próxima eleição.
Para Obama, há um outro confronto fiscal iminente que virá à tona em março – outra batalha sobre o limite da dívida, sobre cortes de gastos obrigatórios que foram adiados desde janeiro e sobre o término da autoridade de gastos para todo o governo.
E algumas de suas principais metas do segundo mandato, como a imigração, a revisão do código fiscal, o controle de armas e a legislação sobre a mudança climática, acontecerão diante de realidades orçamentárias sombrias.
A história americana está cheia de segundo mandatos problemáticos.
Richard Nixon (1969-1974) renunciou em desgraça. O segundo mandato de Ronald Reagan (1981-1989) foi marcado pelo escândalo Irã-Contras. Até mesmo George Washington, reverenciado primeiro presidente da nação, teve um segundo mandato complicado.
Seu apoio ao Tratado de Jay, que visava a expandir os laços comerciais com sua inimiga da Guerra Revolucionária, o Reino Unido, dividiu a nação. Muitos líderes – incluindo o futuro presidente Thomas Jefferson (1801-1809) – desafiaram Washington. Jefferson chamou o tratado de um “monumento à loucura”. Multidões furiosas se reuniram em frente à casa de Washington e houve discussões para que houvesse um impeachment.
Jefferson, outro reverenciado fundador do país, teve seus próprios problemas em seu segundo mandato, quando tentou manter os EUA fora das guerras napoleônicas e impôs um embargo desastroso a navios americanos que afundou sua popularidade.
Mas um segundo mandato ruim não é regra – e Obama não vai necessariamente sucumbir.
William Galston, conselheiro de política doméstica durante o segundo governo de Clinton, disse que a noção do azar de um segundo mandato é uma simplificação, pois “muitos presidentes têm problemas em seus primeiros mandatos” e não são reeleitos, como Jimmy Carter (1977-1981) e George H. W. Bush (1989-1993). E conquistas de um novo mandato – como o de Clinton – precisam ser avaliados juntamente com os problemas, disse.
Galston também sugeriu que algumas coisas podem ser mais fáceis para Obama em seu segundo mandato dado a dinâmica da vitória de sua reeleição – como a imigração e a revisão do código fiscal. Ele já conseguiu que o Congresso – pós-eleição – aumentasse os impostos sobre os americanos mais ricos, algo que não conseguiu fazer anteriormente.
Em seu livro, “O Poder Presidencial durante o Segundo Mandato”, o estudioso presidencial Alfred Zacher concluiu que apenas um presidente teve um segundo termo verdadeiramente melhor que o primeiro: James Madison (1809-1817). Mas outros sete tiveram sucesso moderado durante seu segundo mandato apesar dos contratempos, escreveu, sendo os mais recentes Dwight Eisenhower (1953-1961), Reagan e Clinton.
James Thurber, diretor do Centro de Estudos Presidenciais e do Congresso na Universidade Americana, disse que, até o fim do primeiro mandato, “o povo americano começa a conhecer seu presidente muito bem. O entusiasmo de sua primeira eleição fica longe. Isso limita a possibilidade de grande sucesso no segundo mandato”.
Além disso, os presidentes que foram reeleitos podem se tornar confiantes de suas vitórias, enxergar sua reeleição como um “mandato” para pressionar suas agendas, começar a acreditar no sucesso da campanha publicitária que lhe reelegeu e se cercar de muitas autoridades de alto escalão e jovens inexperientes, sugeriu Kenneth M. Duberstein, que foi chefe de equipe de Reagan.
O presidente George W. Bush afirmou que gastaria o “capital político” de sua vitória na reeleição de 200, mas foi um investimento perdido. Ele não fez muita coisa em seu segundo mandato.
Thomas Cronin, professor de ciência política do Colorado College, disse que o tempo que Obama tem para exercer qualquer tipo de influência é limitado, e ele precisa agir rapidamente.
Um ou dois anos durante o segundo mandato de um presidente, “as pessoas começam a dizer, bem, vamos apenas esperar o fim do mandato desse cara”, disse Cronin. “É por isso que os próximos seis a dez meses são cruciais.”
Fonte: Ultimo Segundo
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