Dezenas de milhares de pessoas se reuniram diante do palácio de Al Ittihadiya, em Heliópolis, periferia do Cairo, na noite desta terça-feira (horário local), para protestar contra o presidente Mohamed Mursi. Imagens da rede de TV dos EUA CNN mostram que o grupo rompeu algumas barreiras policiais e que houve confrontos localizados, inclusive com lançamento de bombas de gás lacrimogêneo.
“O povo quer a queda do regime”, gritam os manifestantes, que batizaram o ato de “Último Aviso”. Eles querem impedir a realização, no próximo dia 15, do referendo que pretende colocar em vigor a nova Constituição do país. Na praça Tahrir, no centro do Cairo, milhares de pessoas permanecem acampadas há quase duas semanas.
Os jornais independentes mais lidos do Egito não foram publicados nesta terça-feira em protesto contra a “ditadura” de Mursi.
Na segunda maior cidade do país, a costeira Alexandria, outras 10 mil pessoas se reuniram, no centro, para protestar contra Mursi e a Irmandade Muçulmana, que o apoia.
O islamita Mursi foi democraticamente eleito presidente do Egito em junho passado, um ano e meio após a série de protestos que levou à deposição do ditador Hosni Mubarak. Ele obteve, na ocasião, 51% dos votos, demonstração da divisão política que enfrenta o país.
No último dia 14, ele assinou decretos que lhe concederam “superpoderes”, porque eximiram qualquer decisão sua de exame judicial. Mursi chegou a se reunir com juízes para afirmar que o decreto tinha como objetivo só proteger a formulação da nova Constituição do país, mas nunca os alterou.
Em meio a protestos da população e de membros do Judiciário, a assembleia constituinte, que foi dominada por islâmicos simpáticos a Mursi, passou o esboço da nova Constituição. Nas semanas anteriores, entretanto, deputados liberais opositores do governo tinham abandonado aos poucos a assembleia, alegando não ter vez entre a maioria islâmica.
Entre as cláusulas que geraram incômodo estão a que preserva boa parte dos poderes que o Exército tinha na era Mubarak, como aprovar o orçamento militar sem a supervisão do Parlamento. Outro ponto controverso do esboço aprovado ontem é a inexistência de garantias explícitas dos direitos das mulheres. Entre pontos vistos como positivos está a limitação do mandato presidencial a no máximo dois períodos de quatro anos.
No sábado (1º), milhares de pessoas participaram de manifestações pró-Mursi. Uma delas cercou o prédio da Corte Constitucional Suprema do país, impedindo os magistrados de trabalharem, o que os levou a iniciar uma paralisação por tempo indeterminado.
Fonte: Folha
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