Mursi promete democracia após decreto que ampliou seus poderes.
A capital do Egito, Cairo, continuou sendo palco neste sábado de enfrentamentos entre a manifestantes — contrários às novas prerrogativas do presidente Mohamed Mursi — e a polícia, que lançou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.
Em meio a protestos violentos, com choque entre manifestantes e a polícia, e sedes da organização Irmandade Muçulmana sendo incendiadas pelo país, o presidente do Egito prometeu nesta sexta-feira, no Cairo, que o Egito está no caminho da “liberdade e da democracia”, apesar das acusações lançadas por opositores e das cobranças da União Europeia.
— A estabilidade política, a estabilidade social e a estabilidade econômica, é o que desejo e é o motivo pelo o qual trabalho —, declarou Mursi em um longo discurso proferido para seus partidários reunidos perto do Palácio Presidencial, no dia seguinte ao anúncio de medidas que reforçam seus poderes.
— Eu sempre estive, ainda estou e sempre estarei, se Deus quiser, com o povo, é o que o povo quer, com uma clara legitimidade —, insistiu.
— Ninguém pode deter nossa marcha adiante (…) Estou cumprindo minha função para servir a Deus e à nação e tomo as decisões depois de consultar todos —, disse o presidente, citado pela agência oficial MENA.
Em resposta, a União Europeia pediu ao presidente Mursi que respeite o “processo democrático” do país.
— Nós estamos cientes das recentes declarações do presidente Mursi. É da maior importância que o processo democrático seja conduzido até o final, em conformidade com os compromissos assumidos pelas autoridades egípcias sobre a separação dos poderes, a independência da justiça, a proteção das liberdades fundamentais e a organização de eleições legislativas democráticas —, indicou em um comunicado um porta-voz da chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton.
O aumento dos poderes do presidente foi chamado pela oposição de medida ditatorial.á
Durante o dia, manifestantes incendiaram a sede do Partido da Liberdade e da Justiça (PLJ), da Irmandade Muçulmana, em três cidades do Egito, informou a rede de televisão pública.
Os escritórios do PLJ, partido de Mursi, foram incendiados nas cidades de Suez, Ismailiya e Port Said, segundo o canal. Um funcionário do partido islamita também indicou à AFP que escritórios do partido foram tomados na cidade de Alexandria, onde ocorreram confrontos entre manifestantes favoráveis e contrários a Mursi.
Na quinta-feira, Mursi, primeiro presidente civil e islamita do país mais populoso do mundo árabe, concedeu a si mesmo em uma “declaração constitucional” o direito de tomar qualquer decisão ou medida para proteger a revolução de 2011
— As declarações constitucionais, decisões e leis emitidas pelo presidente são definitivas e não podem ser apeladas — à espera de uma nova Constituição, prevista para meados de fevereiro, segundo esta declaração.
“Golpe de Estado” Mursi acumula os poderes Executivo e Legislativo (da Câmara dos deputados, eleita em junho) e mantém relações tensas com uma parte do judiciário. Em agosto, já havia reforçado seus poderes ao afastar o ex-ministro da Defesa, Hussein Tantaui.
A oposição fala de “um golpe de Estado contra a legalidade” e convocou manifestações em todo o país.
Após a grande oração muçulmana de sexta-feira, opositores, em sua maioria liberais e laicos, se reuniram na Praça Tahrir, epicentro da revolta que provocou a queda do presidente Hosni Mubarak em fevereiro de 2011.
A eles, devem se juntar Amr Moussa, ex-chefe da Liga Árabe, e Mohamed ElBaradei, e ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que acusou Mursi de se auto-proclamar “o novo faraó”
Mursi pediu “novos julgamentos” nos processos sobre as mortes de centenas de manifestantes durante a revolta, o que fez crescer a ameaça sob chefes militares e policiais, e que pode até resultar em novo julgamento para Mubarak, já condenado a prisão perpétua.
O presidente também destituiu o procurador-geral, Abdel Meguid Mahmud, que assumiu o cargo durante o regime de Mubarak, e decidiu que nenhuma instância judicial pode dissolver a comissão encarregada de redigir a futura Constituição, uma entidade criticada por liberais, laicos e a Igreja copta, que a acusam de ser dominada por islamitas.
Essas decisões têm por objetivo “limpar as instituições” e “destruir as infraestruturas do antigo regime”, explicou o porta-voz da presidência, Yasser Ali.
Fonte: ZeroHora
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