‘Promovido’ a Cisne nas piadinhas de internet desde que chegou ao São Paulo – equipe ainda vista como elitista pelos torcedores rivais -, Paulo Henrique Ganso começa a enfrentar seus demônios neste domingo, quando vai fazer sua estreia pelo Tricolor. Em ato decisivo de sua carreira, o jogador precisa superar a pressão e as dúvidas sobre seu futuro. Porém, mais do que as cirurgias nos joelhos, ele terá de curar principalmente as cicatrizes impostas à sua imagem após atritos públicos com o Santos, do qual se despediu sob uma chuva de moedas e gritos de “mercenário” na Vila Belmiro.
Ainda não se sabe exatamente que jogador é este que vai vestir a camisa tricolor pela primeira vez neste domingo no Morumbi. Será o gênio precoce que colocava Neymar na cara do gol e participava das coreografias infantis naquele time apelidado de Cirque Du Soleil pelo presidente Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, hoje seu desafeto? Ou um craque mais maduro de qualidade incontestável, porém sem as condições físicas suficientes para encarar a truculência e o calendário exaustivo do futebol moderno? As variáveis entre essas duas opções são muitas e, pelo menos por enquanto, Ganso ainda é um ponto de interrogação com um 8 colado nas costas.
Afinal, até seu número de inscrição na súmula será novidade. Se, há dois anos, estreava pela Seleção principal já como camisa 10 absoluto, hoje, começa “por baixo” no novo clube para reconstruir a carreira. Além do desempenho em campo, as polêmicas fora dele podem afetar até seus contratos como garoto-propaganda.
Sem assinar novos acordos deste tipo desde 2010, o jogador ainda empresta seu rosto de bom moço para um de seus patrocinadores nas propagandas de aparelhos de barbear. Seja com a cara de ontem ou a de hoje, Ganso vai ter de ‘dá-la a tapa’ se quiser lucrar mais midiaticamente e ser protagonista na Copa de 2014, esse sim seu maior objetivo.
“Pressionado eu não me sinto. Meu pensamento é jogar futebol e deixar o que passou para trás. Só quero jogar bola e fazer o meu melhor”, garante Ganso, sem, no entanto, conseguir esconder o semblante de ansiedade e receio nesta semana de estreia.
Chegar já ‘roubando’ a camisa 10 de Jadson poderia colaborar com aqueles que preferem lembrar mais do recente lado obscuro do jogador. Para o ano que vem, no entanto, retomar o mais nobre número do futebol não está descartado, fato que pode ajudar também na exploração do seu marketing.
“A camisa 10 tem mais peso, lembra Pelé. O astro do time é sempre aquele que veste a 10. Mas, para o Ganso, é uma coisa muito simples. Se voltar a jogar o que sabe, vai ser astro novamente. Se começar a jogar mal, volta tudo de ruim, a lembrança de mercenário. Ele tem agora esta oportunidade de se recuperar”, opina Toni Lauletta, presidente da Informídia Pesquisas Esportivas, consultoria de marketing que estuda retorno de investimentos.
Se em campo o rendimento de Ganso ainda é uma incógnita, até agora, os companheiros de São Paulo também sabem muito pouco sobre a personalidade do novo contratado. No CT, ele ainda não conseguiu se enturmar. Mesmo aqueles de convívio próximo o descrevem como uma pessoa muito fechada. O atacante Luís Fabiano e o volante Fabrício foram os que mais tiveram contato com a nova estrela da companhia. Não por coincidência, esses são jogadores campeões de lesões e que passam boa parte do tempo em tratamento no Reffis.
“É muito difícil fazer brincadeira com ele. Por outro lado, se você precisar, ele te dá até as calças”, afirma Roberto Moreno, diretor executivo do Grupo DIS. Braço esportivo do Sonda, a empresa é dona atualmente de 68% dos direitos do jogador. Em Santos, no entanto, o fundo de investimentos é apontado como a principal razão para os desvios de postura do atleta e também para as ásperas negociações que o levaram a sair do ex-clube.
Após finalmente aprovar sua liberação, o presidente do Santos chegou a dizer que Ganso precisaria de acompanhamento “por ter um problema incurável”. A frase enigmática deixou dúvidas se Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro se referia a problemas no joelho ou ao caráter do meia. Passados dois meses da ruptura final, o mandatário não quer mais aparecer em manchetes deste tipo e nem dar margem para múltiplas interpretações. Não tem aceitado falar sobre o assunto por telefone e, publicamente, tem procurado desejar sorte ao jogador em sua nova fase.
Apesar da personalidade forte e introspectiva, Ganso é visto pelos amigos apenas como uma pessoa doce, ligada à família e fã de cinema. Evangélico, garante não frequentar baladas, não fumar e não beber. No máximo, se permite apreciar churrasco e pagode, além das músicas de louvor, suas favoritas.
Em sua nova rotina na capital paulista, vive com a noiva em um flat próximo ao CT. Decidiram se casar após uma breve ruptura, ocorrida na época em que Ganso assumiu a filha Maria Victoria, nascida em junho, fruto de outro relacionamento.
No Tricolor, o craque levou a sério o tratamento de recuperação muscular. As longas sessões foram seguidas à risca graças à supervisão direta de Luiz Rosan, chefe do departamento de fisioterapia do clube.
Enfim pronto para voltar ao gramados nesta reta final de Brasileirão e Copa Sul-americana, Paulo Henrique Lima só quer um retorno gradativo e sem sustos. Seja Ganso ou Cisne, branco, negro, canarinho ou tricolor, o futuro dele é também, em parte, o futuro do futebol, grande fonte de alegria e dor neste País. Dois sentimentos que o povo brasileiro e o meia paraense conhecem muito bem.
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