Valor seria maior se incluísse custo humano e gastos indiretos; as partes estão em negociação em Oslo
Nos últimos dez anos, o combate às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) consumiu uma média anual de 3% do Produto Interno Bruto (PIB) do país, estimaram especialistas ouvidos pela BBC Brasil.
Eles acreditam que, com a perspectiva de paz diante das negociações entre os dois lados do conflito, o governo colombiano poderá, além de investir o que é gasto com a guerra em outras áreas, atrair mais investimento estrangeiro.
A proporção de 3% do PIB representa, por exemplo, metade do investimento em infraestrutura estimado para o país nos próximos anos.
Segundo o Banco Mundial, o PIB da Colômbia no ano passado foi de US$ 331,5 bilhões (R$ 663 bilhões). Pela estimativa de economistas do país, desse montante, quase U$S 10 bilhões (R$ 20 bilhões) teriam sido usados para arcar com o conflito armado.
A previsão orçamentária para combater as Farc em 2013 é de 21,5 trilhões de pesos colombianos (cerca de US$11,8 milhões ou R$ 23,6 bilhões), superando a média e indicando o peso crescente do conflito aos cofres da Colômbia.
Na prática, o valor total destinado pelo Ministério da Defesa para cobrir custos decorrentes do conflito civil é um pouco maior: 26,3 trilhões de pesos. Desse total, 4,8 trilhões são direcionados para o pagamento de pensões a militares e 21,5 trilhões para as operações de combate.
Segundo eles, entretanto, definir o valor exato do que é gasto na guerra não é tão simples. Para o economista e consultor independente Daniel Niño, os próprios números apresentados pelo governo são diferentes entre si.
“O Ministério da Defesa apresenta um valor que representa 1% do PIB da Colômbia, enquanto a Controladoria Geral da República tem estudos que revelam que a guerra consome 5% do que arrecadamos”, disse Daniel Niño à BBC Brasil.
“Gastos colaterais”
Nesta estimativa, só aparecem os gastos com a guerra em si – manutenção das tropas, equipamentos e armamentos militares.
Não são levados em conta o que o governo usa, por exemplo, para consertar estragos deixados por ataques das Farc.
Um relatório da Presidência revelou que, entre janeiro e maio deste ano, foram registrados 80 atentados contra a infraestrutura do país. De 2010 até o período analisado, foram 332 estruturas afetadas.
“Por causa destes atentados também é difícil dimensionar o tamanho do prejuízo ou do dinheiro que o governo poderia estar investindo em outras áreas”, alertou Daniel Niño.
As empresas também sofrem as consequências dos ataques, especialmente as petroleiras.
Um levantamento da Associação Colombiana de Engenheiros de Petróleos (Acipet) estima que, entre 2008 e 2011, foram registrados 32 ataques a indústrias petroleiras. No ano passado, foram quase três vezes mais, com 87 ocorrências. E, só no primeiro semestre deste ano, os casos já chegam a 67.
Segundo a associação, por causa destes atentados, o país deixou de produzir 20 mil barris de petróleo por dia.
A população civil também sofre prejuízos relacionados com deslocamentos, violência, acidentes com minas terrestres e sequestros.
Os moradores das cidades nas zonas vermelhas (de conflito) sofrem com ataques a estruturas elétricas, pontes e abastecimento de água.
No último mês de agosto, por exemplo, na costa pacífica do Departamento de Nariño, oito torres de energia elétrica foram atacadas e, como consequência, quatro cidades ficaram sem energia – afetando 250 mil pessoas.
A cidade de Tumaco, a mais atingida, ficou 12 dias sem abastecimento elétrico. À época, a diocese da cidade enviou um comunicado à imprensa do país dizendo que a cidade estava “esquecida”.
“Os serviços de saúde e as aulas foram suspensos por uma quinzena. O abastecimento de água entrou em colapso e as equipes tiveram dificuldades para consertar as torres porque os guerrilheiros deixaram minas terrestres no local”, dizia o comunicado da Igreja Católica.
Médio prazo
Mas, caso os negociadores consigam entrar em acordo, a redução de gastos com a guerra não será imediata.
Analistas consultados pela BBC Brasil afirmam que, pelo menos no médio prazo, os gastos tendem a continuar elevados para manter a segurança no pós-conflito, com a indenização a vítimas, a reintegração de desmobilizados da guerrilha e a retirada de minas no país.
“Esse dinheiro continuará sendo gasto por vários anos. Mas a perspectiva de reconstrução é muito melhor que a da manutenção de uma guerra que, no nosso caso, quase que se cristalizou”, diz o economista Juan Fernando Vargas, da Universidad del Rosário.
Vargas prefere não fazer cálculos sobre o dinheiro que o país gasta com a guerra e diz que, em termos de investimentos, as empresas “se acostumaram” a investir na Colômbia.
Ele cita a melhora nas análises de risco sobre a economia colombiana. Hoje, por exemplo, o Risco-país colombiano é de 77 pontos no índice EMBI do banco de investimento americano JP Morgan, que mede a capacidade do governo de continuar pagando sua dívida pública. Há 10 anos, ele era de 1030 pontos. Em comparação com o momento atual, o Brasil tem 149 pontos segundo a mesma fonte.
Além disso, o PIB do país cresceu acima de 4% nos últimos dois anos. Para 2012, a estimativa é de crescimento de 4,5 a 4,8%.
“Apesar do conflito, estamos crescendo. Mas a guerra consome capital humano e dinheiro. Por isso, a pergunta é: o que podemos fazer em paz? Como nos comportaremos?”, diz Juan Fernando.
Representantes das Farc e do governo colombiano estão reunidos em Oslo, na Noruega, para negociações que tentam por fim a um conflito armado que já dura quase cinco décadas.
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