A aguardada presença de Clarence Seedorf com a camisa do Botafogo será concretizada oficialmente neste domingo, no jogo contra o Grêmio pelo Campeonato Brasileiro. O holandês entra no gramado do estádio Engenhão para reviver – ou até superar – o sucesso plantado nos últimos anos pelo meio-campista Petkovic na capital carioca.
Alguns fatores tendem a ajudar Seedorf na adaptação. O Rio de Janeiro não é um local estranho ao atleta, que é casado com uma brasileira (carioca) e fala português de forma fluente. Ainda por cima, a genética contribui: o meia carrega a nacionalidade e os costumes da Holanda, contudo nasceu na América do Sul, em Paramaribo, no Suriname.
“Eu não conheço tanto o Seedorf, mas todos sabem que se trata de um grande profissional. A gente espera que ele jogue bem aqui no Brasil, torcemos pelo mesmo sucesso para o Forlán, que está chegando ao Internacional”, afirma o vascaíno Juninho Pernambucano, que será rival de Seedorf no Rio de Janeiro.
O currículo de Seedorf é inquestionável. Revelado no Ajax e com uma rápida passagem pela Sampdoria (Itália), o atleta formou uma sequência extraordinária nas maiores agremiações da Europa: ganhou a Liga dos Campeões por Real Madrid (Espanha), Internazionale (Itália) e Milan (Itália).
No entanto, a comparação com Petkovic será desigual ao novo visitante do Rio de Janeiro. O sérvio chegou ao Brasil em 1997 e defendeu sete clubes diferentes, com seis títulos acumulados nas passagens por Vitória, Flamengo e Vasco. Em seu site oficial, o ex-meia carrega, inclusive, a marca de “O Gringo mais querido do Brasil”, além de citar três grandes virtudes: profissionalismo, técnica e persistência. Pet aproveita a imagem positiva junto aos brasileiros para lucrar neste momento com eventos – já acertou uma exibição do tenista e compatriota Novak Djokovic na capital carioca.
A maior dúvida em relação à produção de Seedorf fica com a questão física. Aos 36 anos, o holandês busca a adaptação no futebol em que a correria virou uma característica marcante. A resposta em relação à idade vem do próprio Juninho Pernambucano. Aos 37 anos, o meio-campista brilhou por quase uma década na Europa e aceitou o desafio de jogar novamente no Vasco desde o ano passado. “Se jogadores continuam em atividade depois de certa idade, isso se deve ao sacrifício de toda uma carreira”, define o atleta, destaque da última vitória de sua equipe contra o São Paulo, no Morumbi.
No passado, visitantes em outros locais do Brasil – A presença de europeus no futebol brasileiro foi mais forte principalmente nas décadas iniciais do século passado – no período sombrio das duas grandes Guerras Mundiais – e esteve em várias partes do território nacional com representantes de diversas nações. Mesmo ligado à colônia italiana, o Palmeiras foi um exemplo de diversidade na recepção dos estrangeiros.
“Todos lembram do italiano Marco Osio nos anos 90, mas o Palmeiras também teve jogadores portugueses, espanhóis e até húngaros, mas da década de 40 para trás. Naquela época, o futebol não ficava descolado do mundo, por causa da guerra, a América do Sul era a oportunidade de um mundo novo. Hoje, a chegada do Seedorf está relacionada também à questão econômica”, compara Fernando Galuppo, responsável por pesquisas históricas relacionadas ao clube de Palestra Itália.
No São Paulo, o europeu que mais chamou a atenção não entrou em campo: foi o técnico húngaro Bella Guttmann, campeão paulista de 1957. Outro comandante do Velho Continente no clube, o português Joreca montou o respeitável time dos anos 40.
O departamento de comunicação do Tricolor enviou à reportagem uma lista com os atletas da Europa que defenderam o clube, com destaque para o romeno Waldemar Zaclis, o português Azambuja e o ucraniano Chemp. O último a entrar em campo com a camisa da agremiação paulista foi Abraham Bem-Lulu, nascido no Chipre, no fim dos anos 60, que ficou conhecido como Alberto no Brasil. Ainda assim, a história mais curiosa marcou o nome do tcheco Frantisek Safranek. “Ele foi emprestado ao São Paulo em uma excursão na Europa, pois alguns jogadores se contundiram e faltou gente para jogar”, descreveu Michael Serra, integrante do setor de história do tricampeão mundial.
No Santos, uma curiosidade: o primeiro jogo da história em 22 de junho de 1912 contou com a presença do francês Julien Fauvel na meta defendida atualmente por Rafael, só que logo o europeu perdeu a condição de titular. No Corinthians, a particularidade também aparece com um goleiro. O húngaro José Lengy foi contratado nos anos 30 depois de passar pelo rival São Paulo.
Por fim, representantes europeus deixaram marcas em mais estados no início do século passado. O goleiro inglês Anderson Williams Waterman defendeu com sucesso o Fluminense entre 1906 e 1909, enquanto o alemão Fritz Essenfelder é lembrado como um dos destaques da fundação do Coritiba. Já o meia Piekarski não deixou muitas saudades em Atlético-PR, Flamengo e até Mogi Mirim (SP), mas voltou às manchetes ao ser condenado em seu país por bigamia (ao se casar pela segunda vez sem concretizar a separação com a outra esposa). Agora, resta ao competente Seedorf escrever a sua história no futebol pentacampeão mundial.
Fonte: Gazeta Esportiva
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